
Despir-se.
Ato comum para os seres humanos,
Ato banal que não causa danos.
O costume de tirar a roupa somente diante de si mesmo,
Vira a rotina do esconder-se, do conter-se, do preservar-se.
A intimidade do seu sexo, é a capa de um livro, que guarda um compêndio de intimidades diversas, de segredos proibidos,
atos escondidos.
O despir-se sozinho vira regra sem trégua, que quebra-se parcialmente,
quando a intimidade a dois acontece literalmente.
No passado era o momento da plena entrega, momento único, ímpar.
Segredos do corpo eram revelados à quem se confiava, a quem se amava, a quem se entregava.
No presente a banalidade do sexo transformou os segredos do corpo em apenas mais um excesso.
Vem então a possibilidade de se despir em público.
A oportunidade de se mostrar sem susto.
A chance de mostrar aos amigos não só o busto,
Mas a capa do livro robusto.
E, particularmente uma vontade de abrir o livro, de mostrar o interior brilho .
É o sentir-se desnudo, literalmente, mostrando tudo.
É o remeter-se ao passado e tentar resgatar o elo quebrado.
Com os pais, com seu próprio legado.
Com os irmãos.
Com os mais chegados.
Nos banhos e saunas em comunidade, nos vestimos com a verdade.
Nos reaproximamos da liberdade.
Reencontramos nossa identidade.
Remontamos nossa capacidade
De viver a igualdade.
Sem roupas de marca.
Sem paletó e gravata.
Sem lenço, sem documento.
Apenas vestidos do nu.
Reencontrando o nosso sentimento.
De nascer naquele momento.
Mas desta vez já adulto.
Consciente do nosso culto.
Do nosso indulto
Conscientes de que o despir-se
Significa o despedir-se do passado amassado que foi amarrotado pelo nosso próprio cérebro algemado ao já pré-conceituado modo de vida, pela sociedade, adotado.